
Jake Gyllenhaal é Swofford, um soldado/snipper que luta contra o tédio no deserto, com uma guerra que não começa, mas que parece não ter fim. É ele a figura central neste polémico filme de Sam Mendes.
Se tiramos alguma elação depois de visionarmos Jarhead é de que Sam Mendes não gosta de histórias convencionais. American Beauty já tinha sido prova suficiente, mas agora não há dúvidas. E, apesar de uma interpretação perturbante de Jake Gyllenhaal e uma comovente actuação de Peter Sarsgaard este é um filme de Sam Mendes, para Sam Mendes. A minha teoria é de que o realizador quis aproveitar a oportunidade de estar a fazer um filme de guerra para homenagear os clássicos do género que, no fundo, não falam sobre a guerra, Full Metal Jack e Apocalypse Now. A cena inicial não deixa dúvidas da referência ao filme de Stanley Kubrick e, no caso do filme de Francis Ford Coppola, este é mesmo utilizado numa das mais inspiradas cenas de Jarhead. Mas, Sam Mendes, consegue construir algo de único apesar de não atingir o nível de obra-prima de Kubrick ou Coppola.
Um filme que fala sobre uma imensa perda de tempo pode ser apelidado disso mesmo. E pode ser frustrante ver um filme sem sentido, mas não quando o tema do filme é a frustração e a falta de sentido. Jarhead é então, a meu ver, um filme incompreendido, não chega a ser um filme anti-guerra, mas também não é totalmente pró-guerra e a sua não tomada de posição leva a reacções negativas de ambas as partes.
A espera a que os soldados são submetidos no deserto acaba por mexer com a sua sanidade. Treinados para serem máquinas de matar, o pelotão desespera por não ver a altura em que usarão as armas chegar. Os monstros são invisíveis e cada vez maiores dentro das cabeças de cada um. O deserto é uma espécie de purgatório antes de entrarem no inferno e, convenhamos, quem quer ficar uma eternidade à espera de um inferno que não sabe quando vem?
O estilo de comédia negra é também um pouco uma metáfora para o riso nervoso que nos sai quando queremos deixar de pensar em alguma coisa. Mas esse momento acaba por chegar e os momentos de drama contrastam da melhor forma com o humor.
Outro aspecto do filme que não deixa ninguém indiferente é a qualidade da fotografia, Roger Deakins tem um trabalho fabuloso, ao mostrar a beleza do horror no deserto. Os furos de petróleo que ardem, criando uma chuva negra sobre o branco da areia e que cobre os soldados, o negro que se apodera deles, que entra sem pedir licença. O deserto, infindável na linha do horizonte, com a sua poeira e o seu brasão do sol. Impressionante.
É realmente um filme bastante interessante. Longe de alcançar o epíteto de obra prima, mas uma excelente abertura do ano cinematográfico de 2006 em Portugal.